segunda-feira, 1 de outubro de 2012



Se ele me acha um encosto, uma última opção ou a imagem no fundo do poço de um sábado à noite, pouco importa. E é por isso que funciona. Abrimos mão de formalidades, cumprimentos forçados e ligações inesperadas. Porque tudo isso é muito chato. Deixamos que a vontade fosse o guia, dessa viagem que nunca teve ou terá um destino. E é por isso que funciona. Pra ele, eu não estou nem aí.
Ele liga às 17h de um domingo patético para fingir de ser namorado, e eu o atendo e o abraço. Eu o abraço porque o abraço dele é bom e ponto. Não quero que ele me ligue na segunda, me mande uma mensagem de texto perguntando como foi o meu dia na terça e nem procure saber o que de fato faço nos dias que sou um ser humano de verdade. Porque quando estou com ele, viro alguma coisa que não sei o nome. Meu coração não para e nem acelera, ele bate calminho. Bate como se a companhia dele fosse um aconchego que não existe na terra. E todos aqueles músculos de alguma luta macial que ele faz – e pouco me importa – durante a semana, me abraçam com toda a sinceridade que eu preciso. A de que um abraço seja só um abraço. E é por isso que funciona.
Talvez meu amor por ele já morreu. É isso. Não conseguiu passe de reencarnação. Morreu na primeira desculpa esfarrapada que usamos para mostrar que aquilo ali não era verdadeiro, e por isso, só por isso, funcionou. Ele não me dá o medo da paixão. Muito menos da perda. Ele é meu nem aí. Quero mais é que ele se perca por aí.
Esqueço a parte que bate no coração. Do lado dele eu posso ir ao bar de copo-sujo que mais gosto, com uma roupa confortável e pedir uma cerveja bem gelada. Porque ele nem liga. E nem eu. Posso dizer que comi demais, e que por isso, estou evitando seus abraços e usando aquela calça de moletom velhíssima que jamais usaria nem para levar o cachorro para passear. Do lado dele eu posso tudo. Posso contar e cortar todas as minhas banalidades. E ele continua ali, mesmo que eu esteja com a cara pálida de ressaca e poupando de usar na sua companhia meu inseparável blush bronzeador. Ele continua ali, mesmo que meu cabelo esteja igual ao da Maria Bethânia e minhas olheiras da boate que fui ontem – e ele não foi convidado a me acompanhar – anunciem o apocalipse. Para mim, ele também não está nem aí.
E é só por isso, e mais nada, que o nosso amor que nem chama amor…funciona.